sexta-feira, 24 de junho de 2011

Seu próprio monstro

Era uma vez uma menina romântica que sonhava demais e era uma vez um monstro que cruzou o caminho dela. O monstro não parecia tão mau de início e a jovem se encantou com os olhos tristes e a necessidade que ele tinha dela. Ela cuidou, amou, se doou, quis ser somente dele e acreditou. O tempo passou e de repente a verdade chegou. A tristeza tomou conta do sorriso, o amor transformou-se em dor. E a dor levou para longe toda a esperança daquela mulher que ainda não sabia ser dona de si.

Foi então que ela começou a lutar. Lutou tanto que cansou e pensou em desistir, mas um anjo desconhecido fez o monstro partir. Contrariado, ele se foi. Para sempre. Mas a sombra daqueles dias tristes e doentios continuava a segui-la. Onde quer que ela fosse. E ela nunca mais foi a mesma. Ela agora crescia e se tornava uma linda mulher, mas por dentro ainda era uma menina que só queria colo. Para se proteger do que mais viesse ela criou um personagem. Transformou-se em uma fortaleza de palavras duras, máscaras e mentiras. Mentiras para ela mesma e para aqueles que queriam ser dela. E o tempo foi passando, passando. Pessoas foram se perdendo pelo caminho, amores foram rechaçados e seu coração se tornou uma pedra

...

Então uma pessoa apareceu. Ele veio com calma, mas a conquistou. E ela começou a querer pertencer a alguém de novo, ela quis ser ela mesma. Ah, mas ela não podia ser frágil novamente e quando percebeu que aquela pessoa podia mudar tudo e podia fazê-la sonhar, ela deu um passo para trás e colocou a máscara mais desprezível que possuía. Falava o contrário do que queria. Demonstrava menos do que sentia e mentia. Mentia tanto que acabou acreditando na própria mentira. O novo homem, cansado dos seus próprios traumas, começou a defender-se daquela mulher que parecia não querer merecer amor algum. Mas ela queria e precisava de todo amor e quando percebeu, era tarde demais. Ela havia se tornado o monstro que sempre desprezou. Ela esqueceu de sentir. A menina romântica agora era apenas um resto de uma história que não soube abandonar. O monstro havia partido, mas ela continuava a lutar.

Uma vez um homem triste, mas sábio, disse “quem luta com monstros deve velar por que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti”.

Ela olhou demais para aquele abismo e agora não sabe mais olhar para a luz.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

About blank

Era uma vez uma cor terrível e assustadora. O Branco. Sim! O Branco! Vocês devem estar se perguntando por que o Branco seria tão assustador. E a pomba da paz? E a serenidade? E a pureza? Nada disso! Esse Branco não tem nada de bom. Ele representa o vazio, o limbo. Aquele eco que não para de repetir o silêncio do nada. Esse Branco tão vil e desprezível aparece de vez em quando na vida de uma menina que gosta de cores. De todas as cores, menos do Branco. E quem disse que ele é cor? Dizem por aí que ele tenta ser cor, que se disfarça de nuvem para se misturar ao arco-íris. Dizem até que se transforma em outras pseudocores. “Ah isso é gelo!?”, “Não, é champagne!”. Ai! Me dá até arrepios.

Voltando a nossa história... A menina que gosta de cores também gosta de letras. E ela gosta de encher de letras todo o espaço vazio que encontra pelo caminho. E essas letras se transformam em palavras que compõe histórias que enchem de cores seu mundo e de outras pessoas que gostam das suas misturas. E lá vai ela, juntando uma letra aqui, outra ali, uma pitada de cor, um borrão de azul e um pingo de amarelo, pessoas e mais pessoas e uma exclamação, quando, de repente, surge do meio do mais intenso fluxo de combinações, o Branco.

...

Silêncio total. O olhar vidrado e os olhos semicerrados tentando captar alguma coisa. Mas nada. Chega a doer. Ela fica triste. Implora para ser livre de novo e o Branco não deixa, a aprisiona no mais fundo lugar do seu vazio. Triste e cansada de tanto lutar, a menina se deixa vencer, senta-se e começa a contemplar aquele infinito desconcertante. De tanto observar o nada, ela enxerga alguma coisa. Ela desiste de lutar contra e se junta aquele silêncio. Ela se cala e espera. Ao seu lado o papel em branco apenas existe para servir de tela a toda explosão de cores, letras e sentidos que está por vir.

domingo, 17 de abril de 2011

De volta para casa

Era uma vez um búlgaro e duas garotas que viajavam pelo mundo. Ele, um homem de olhar triste e pele tatuada. Elas, duas babás brasileiras, de mochila nas costas, que moravam há um ano na Europa. Ele entrou no trem no meio do caminho, mas não foi direto para uma das cabines de cheiro estranho daquela composição. Não havia muitas vazias, mas havia uma em que só duas garotas tentavam dormir. Uma era carioca e a outra gaúcha. Ele olhou lá dentro, mas não quis entrar. Parecia ter medo das pessoas e por alguma razão as pessoas realmente pareciam querer repeli-lo.

Eles estavam em algum lugar da Bulgária. Fazia muito calor e o barulho e a lentidão do trem incomodava demais. O búlgaro olhava pela janela parecendo querer pegar alguma coisa no vento até que se cansou. Virou-se para a cabine onde as garotas já haviam desistido de dormir e tentavam ler seus livros. Ele disse alguma coisa em búlgaro esperou uma resposta e recebeu apenas um sorriso de uma delas. Ela não entendia o que ele dizia e provavelmente ele não entenderia inglês, pensava ela. O homem retribuiu o sorriso e sentou-se perto da janela de frente para a amiga que estava assustada. Ela olhou para a companheira tentando se comunicar com o olhar para dizer que aquele homem parecia estranho demais, mas a carioca não pensava isso. Realmente, estranho ele era, e ela sabia o que todas aquelas tatuagens, que mais pareciam ter sido feitas por uma criança, significavam, mas ainda assim ela não se incomodou.

A carioca fez algum sinal tranqüilizador para a gaúcha que voltou a ler seu livro. O tempo continuava quente e a carioca começou a ficar tensa. Ela saiu para fumar e o búlgaro foi atrás. Pediu um cigarro. Ah, a linguagem universal dos fumantes. Eles ficaram em silêncio olhando a paisagem que passava lentamente seguindo os movimentos enjoativos do trem. Quando voltaram para a cabine o homem finalmente tomou coragem e começou a conversar com elas. Em búlgaro, claro. Elas não entendiam nada, mas ele parecia precisar muito falar e elas escutaram. A carioca tentou conversar com ele misturando todas as línguas que sabia e os mil gestos que conhecia. E não é que a conversa ficou fluiu e ficou agradável! Ele parecia feliz e tirou uma fotografia de dentro do bolso da camisa. Eram três crianças e uma mulher que parecia com ele. Atrás da foto seus nomes e uma dedicatória. Ele apontou para cada uma delas e falou mil coisas. A carioca entendeu só de olhar para os olhos dele que ele não via a mãe das crianças há muito tempo e que ela estava de alguma forma magoada com ele. Mas ele parecia ter esperança de que fizessem as pazes. Ele chorou e envergonhado das lágrimas abaixou a cabeça e a carioca disse que tudo ficaria bem. Ela falou em português, mas ele pareceu compreender. Sorriu para ela e guardou a foto no bolso. Ficaram todos em silêncio até que o trem finalmente parou. Era a estação dele e ele parecia apreensivo. Despediu-se das garotas e seguiu.

A carioca ficou de longe observando aquele desconhecido ir embora e a gaúcha finalmente perguntou sobre ele. A carioca lhe explicou que aquele homem deveria ter acabado de sair da cadeia pelas tatuagens que tinha e pelo olhar de arrependimento e tristeza que trazia. Ela disse também que ele visitaria sua família que não via há tempos. Como ela entendeu aquilo? Bem, das tatuagens, History Chanel – especial sobre as prisões na ex-URSS. Agora, sobre o resto... Ah, a linguagem universal daqueles que estão há muito tempo longe de casa.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Beijo bom = sexo bom?

Era uma vez uma teoria. Putz! Teoria furada! Tudo começou quando Alexandra e mais três amigos saíram para uma boate. A noite nem prometia tanto. Alexandra nem estava tão a fim de sair. Mas seus amigos estavam e na onda lá foi Alex. Não é que a música estava boa?! O lugar também. Gente bonita, interessante. Aquele ambiente inóspito, escuro e meio largado, típico de boate cult bacaninha da Zona Sul. A fumaça incômoda, mas que não pode faltar, as tatuagens que você tenta, mas não consegue decifrar. As blusas neon com a luz branca. Luz branca é tudo! Você joga a cabeça para um lado e para o outro e nada mais existe. Só aqueles relâmpagos de pessoas enquadradas em poses estranhas que você nota cada vez que resolve abrir os olhos para ver de relance se alguém está de olho em você. As luzes se misturam com a batida da música e seu corpo vai sozinho e Alexandra queria beber tequila. Vai sal na mão, lambidinha sexy, joga a tequila para dentro e chupa o limão – tem de ser o mais sexy possível e sem fazer cara feia.

Volta para a pista e recomeça a dança. Embaixo de um jeito em cima de outro. A amiga vem pra perto e Alexandra começa a se esfregar entre as pernas dela como se quisesse prender seus joelhos. Barriga com barriga, seios se esfregando e caras e bocas. Os homens piravam e essa era a intenção. Deram um tempo para ir ao banheiro. Vontade de fazer xixi? Claro que não! É só uma pausa para repetir as caras e bocas no espelho pra ver se está mandando bem e retocar a maquiagem. Ih! Foi nesse momento que a teoria começou a ir por água abaixo. Alexandra estava lá posando de modelo para o espelho que dava para um corredor quando aquele “carinha” foi e voltou para observá-la. Ela logo se empolgou. Olhou de volta e sorriu. Já saiu do banheiro cumprimentando o cara. Loiro, olhos verdes, bonito. Rolou o beijo. Nossa que beijo! Eles se beijaram por tanto tempo que deu câimbra. Era daqueles beijos que arrepiam, que encaixam. Perfeito! E a seguir, a teoria de Alex: “Se o beijo é bom o sexo é melhor ainda!” Sério? Ela acreditava piamente nisso.

- Vamos embora para minha casa?, Perguntou o moço.

- Ah não! Tenho que voltar com meus amigos., Cú doce básico da moça.

- Ah! Eu te levo em casa depois!

- Ok, então! – mudou de ideia rápido, hein!

Acabou que por algum sopro do seu anjo da guarda ela resolveu não ir para casa dele. Transaram no carro mesmo. Numa rua cheia de carros e casinhas bonitas. Sabe a teoria? Foi aí que ela começou a ir por água abaixo. O instrumento do menino não era lá essas coisas, mas lá foi ela. Ah, ele não correspondia, mas por incrível que pareça, estava crente que estava fazendo um ótimo trabalho. “Meia-bomba” era pouco. Nada ali funcionava. A química já era. E tinha um detalhe, o cara era chato e incomodamente bobo. Ela arrumou um compromisso rapidinho, mas ela queria tomar café da manhã. “Pelo amor de Deus, não!”. Então ele resolveu levá-la em casa. Fazer o que né, morar longe dá nisso! O caminho foi torturante e ele já planejava a semana juntos. Ele ligou umas três vezes depois. Mandou mensagem perguntando o que tinha feito de errado. Alexandra se sentiu mal por aquilo, mas...

Ele sumiu e sete meses depois no carnaval, no meio de um bloco, no meio de um milhão de pessoas, ele aparece. Ela treme e tenta se esconder atrás da amiga. Não adianta, ele chega perto, por trás e diz: “Te achei!”. Gente, Alexandra quase cavou um buraco para se esconder. Que situação! Depois de um pé na bunda, de ter mandado mal, de ter acabado com uma teoria de anos, ele ainda achava que poderia rolar algo mais? Sim, ele achava.

Depois disso, ela mudou a teoria. Não existe teoria!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Acontece

Era uma vez o acaso. Era uma vez uma noite comum e uma decisão que mudaria tudo. A menina mais sensata jamais sairia do eixo. Porque, se está tudo certo? A filha que toda mãe pediu à Deus. E ela deu duro para ser assim. Mas naquele dia seria diferente. Ela pegou o ônibus de sempre e se sentou perto da janela, como sempre. Choviscava um pouco e ela olhava os pingos na janela quando sentiu uma presença ao seu lado. Ela olhou para ele e ele sorriu. Ela nunca faria aquilo, mas sorriu de volta para aquele desconhecido. Ricardo puxou conversa, falou umas coisas sem sentido e sem saber por que, ela respondia. Nunca foi de falar muito, mas Aline conversou bastante com o rapaz que trabalhava em uma papelaria. Depois daquela conversa os dois saíram, se curtiram e ele se apaixonou. Ela também, mas como uma mulher estabilizada, com uma vida confortável e um futuro estável, ficaria com um “papeleiro” que ganhava menos de um salário mínimo, não sabia o que queria da vida e já tinha idade demais para estar perdido? Nossa como ela sofreu, mas decidiu ficar com o salário de 8 mil reais, a maturidade e a rotina de um gaúcho que apareceu no meio do caminho. A rotina cansou e o gaúcho ficou chato demais.

Mas aí Aline quis reviver a intensidade e o inesperado de novo. Agora Ricardo estava um pouco melhor no trabalho, mas não estava mais apaixonado por Aline. Ela, porém, caiu de amores por ele. Mas ela era tinhosa. Dizia que não. “É só sexo, gente!” Ok! Mas ela sofria por ele. Queria sentir de novo o amor nos seus olhos e por mais que sua mãe não aprovasse, ela queria estar com ele. O tempo passou e eles continuaram “só fazendo sexo” até que ela engravidou. O que mamãe diria? Dana-se! Ela estava feliz. Era o filho deles, o filho que ela queria tanto de alguém que ela amava tanto.

Por telefone ela lhe contou. Ele se assustou. Disse o que não devia. Ela chorou, mas deu um tempo a ele. E de repente ele voltou a amá-la. Ele a quis como queria antes. E eles decidiram ficar juntos. Mas Aline desconfiava, Tinha algo errado ali. Um dia o futuro se foi de dentro dela e eles se apoiaram. Continuaram juntos e ele teve um aumento. Ela perguntou o que ele queria e ele não soube responder. Com o tempo Aline começou a desconfiar e as palavras soltas e conversas fiadas deram fim aquela história que tinha tudo para dar certo. “Ela deu um passo maior que a perna”, diriam uns, “Ela confiou demais”, dizia sua mãe “E se deu mal”, completava ela. E daí? Todo mundo caiu depois de dar o primeiro passo e ninguém nunca desistiu de andar.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O começo da esperança

Era uma vez um começo. E como todo começo sempre é difícil e excitante ao mesmo tempo. E esse não era diferente. Henrique tinha chegado à cidade de férias. Com sua mochila nas costas atravessou o campinho de terra cercado de crianças que o observavam curiosas e arredias. Lá perto da casa de muro cinza, estava uma menina, que já não era menina há muito tempo. O nome dela não importa, o que importa é que ela achou aquele garoto moreno de mochila amarela, muito bonito. Do alto de sua pose debutante ela o conquistou e ele a desejou por dias sem esperar muito. Henrique era tímido demais.

As tardes passavam divididas. Meninas de um lado e meninos do outro até um dos moleques, aquele mais esperto de todos, decide brincar de salada mista. Estômagos se revirando. Frio subindo pela espinha e meninas cochichando e rindo. “Quem você quer?”, “Olha, você tem que apontar para ele”. Nunca vi jogo mais trapaceado! Henrique fugiu o quanto pode, mas o esperto do grupo, que por acaso era seu primo, o jogou na roda. Tadinho! Lá estava ele, no centro do mundo, do seu mundo. Cercado por crianças que queriam ser grandes – Ah, se elas soubessem! – e por olhos famintos. Um em especial. A menina, quase mulher de olhos de índia.

“Vai Henrique, pêra, uva, maçã, ou salada mista?”. “Salada mista!”, gritou o primo. As maçãs do rosto quase roxas e o coração explodindo no peito. Ele suava frio o e aquela dor de barriga desnecessária que nos acompanha em todos os começos, estava lá. Mas Henrique respirou fundo e seguiu em frente. Parou e esperou por ela. Como dona da situação, ela chegou perto, encostou de leve as mãos no rosto dele, sorriu de soslaio e deu-lhe um beijo. Aquele primeiro toque de lábios. A primeira sensação de ser grande. O primeiro arrepio. A primeira vez que seu corpo amolece. A primeira vez que você perde o controle e enfim tem esperança.

Eles nunca mais se viram. Henrique nunca mais foi passar férias na casa da tia Jurema e, dizem as más línguas, a jovem agora vende beijos e carícias a pessoas que buscam um recomeço.

...

Hoje é o dia internacional do beijo. Um belo dia para ser comemorado. O primeiro beijo, um selinho ou um “beijo francês”, não importa. É sempre marcante. É só parar o tempo, se esquecer de tudo a sua volta e sentir o quanto aquela troca é absolutamente fantástica. Não tem forma melhor de sair de si. Não tem forma melhor de estar em si. Neste exato momento existe alguém começando um beijo, alguém prolongando um beijo e alguém querendo um beijo. Neste exato momento existe um pai beijando seu filho, um namorado arrependido tentando beijar a namorada aborrecida, existe até um cachorro lambendo o rosto de alguém (para eles isso é beijo).

Beije alguém! Ah, você está sozinho? Então se lembre daquele primeiro beijo. Não precisa ser o primeiro da sua vida. Pode ser o primeiro de uma outra história, mas lembre-se do primeiro. Foi esse começo que te deu esperança um dia.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Príncipe (des)encantado

Era uma vez num reino não muito distante, uma moça chamada Katarina. Katarina gostava de pintar, trabalhava muito e tinha uma vida social agitada. Ela era diferente. O tipo de mulher a frente do seu tempo. O tipo de mulher que toda mulher quer ser. Inteligente, criativa, independente e bonita. Morava sozinha com uma gata chamada Regiane, desenhos e pinturas por todos os lados. Essa “moderninha”, como sua mãe costumava chamá-la, era muito sozinha também. Mesmo com todos os homens do mundo aos seus pés ela queria algo mais. Sabe aquele sonho de toda mulher? Aquele homem bonito, simpático, obstinado, inteligente, gentil e acima de tudo, um cavalo na cama? Ela só queria isso.

Um belo dia Katarina, sem nada para fazer, resolveu seguir o conselho de uma amiga e se inscreveu num site, daqueles onde as pessoas vão para buscar alguém especial. Cheia de medo ela ficou ali, sentada de frente para o computador, olhando para a tela pensando em qual dos nomes deveria clicar. “Tesudo”, “Gigante”, “69”, “Gostosão”... Mas um em especial chamou atenção. “Príncipe”. Quem não quer um príncipe? Ele poderia não ser um verdadeiro príncipe, mas só de clicar naquele nome, a magia já se fazia presente.

- Olá, seu príncipe!

Em poucos segundos, a resposta: - Olá! Quem é você, Branca de Neve?

Eles conversaram durante duas horas e Katarina se sentia nas nuvens. Aquele homem desconhecido, aquele mistério, aquele príncipe que poderia aparecer a qualquer momento num cavalo branco, a capa balançando com o vento e o cabelo loiro deslizando pela testa. Eles marcaram um encontro. E daí se era arriscado? Ele era um príncipe. O que poderia dar errado com um príncipe?

Katarina chegou antes, ansiosa ficou esperando por Felipe, essa era a alcunha da realeza. Depois de uma hora, Felipe chegou. Não veio num cavalo branco, mas trazia a capa nas costas. Felipe desceu do ônibus e instantaneamente todos no bar se voltaram para ele. Meio assustada, Katarina o cumprimentou. Ele muito eufórico não parava de falar e Katarina não parava de olhar para ele. Sem muita explicação, Felipe colocou um tapeware sobre a mesa e o ofereceu à Katarina com um sorriso meio infantil. Ela aceitou e comeu, por educação, um dos brigadeiros. Depois de acabada a saia justa, Felipe finalmente contou à Katarina porque estava vestido como o príncipe da Branca de Neve. Com muito orgulho, Felipe disse que era animador de festa infantil, príncipe de debutante e o que viesse. Era ator também, mas não tinha conseguido nada mais sério. Depois de contar todas as suas façanhas festivas, eles foram para a casa de Katarina. O príncipe ainda morava no castelo real com os pais. Eles tentaram e tentaram, mas Felipe não conseguiu embainhar a espada naquela noite.

Alguns dias se passaram e Katarina resolveu dar outra chance a Felipe. Desta vez, ele não se atrasou. Como um gentleman ela a tratou como uma princesa. Ela gostou. Felipe era tão lindo. Tão lindo que doía até. Era tão gentil que até cansava. Era tão perfeito que ela desistiu. Katarina queria um príncipe sim. Mas queria alguém que quisesse transar, mas que soubesse abraçar. Queria alguém que dissesse um simples “bom dia” ao invés de tocar “café da manhã” no violão. Ela só queria um carinho e ele queria um “felizes para sempre”. Ele era um príncipe e ela era uma princesa, mas ela era real e ele, um conto de fadas.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Plano sequência

Era uma vez uma paulista. Na verdade, Lúcia não era paulista. Ela nasceu no Rio de Janeiro no mês do desgosto. Lúcia, como diziam os mais chegados, era o bebê mais lindo do mundo e com toda razão. Parecia aqueles bebês de capa de revista, de cinema. Ela viveu no Rio até sua mãe resolver que era hora de acinzentar seu mundo. A família foi toda para Sampa. Não fosse pelos “x” no lugar dos “s”, Lúcia seria a típica paulista. Branca, olhos cor de oliva, cabelos castanhos lisos e um sorriso terno, que ela tem até hoje. Nunca foi muito de falar, apenas o necessário. Observava mais, ria de tudo e adorava bater porta quando estava com raiva. O tempo passou e a doce Lúcia já falava com todos os “esses” possíveis, saía para baladas e fazia cursinho. Ela também gostava de cinema. Acho que de todas as pessoas que já conheci, Lúcia é a que mais assistiu filmes. Ela ficaria horas vendo filmes e mais filmes. De todos os gêneros. Por um tempo ela até pensou em ser cineasta, mas a vida segue uns caminhos tão estranhos. De repente a ideia de ser médica, de repente a volta para o Rio de Janeiro e não mais do que de repente a paixão pelo cinema a trouxe de volta de vez. Um carioca indie, levemente acima do peso e simpático estava lá, esperando por ela na porta de um cinema. Durante uma madrugada inteira eles se apaixonaram, durante um filme qualquer eles começaram a escrever seu roteiro. E foi como num filme. O mocinho trouxe de volta a donzela do castelo das sombras. Eles juntaram os trapinhos, casaram e estão grávidos de um carioca. Agora eles estão tentando, entre obras, ultrassons, estresses da vida a dois e a expectativa de ser responsável por alguém, escrever a parte dois do filme.

Epifania*

Era uma vez em Londres. Duas pessoas que vieram do mesmo continente se encontraram do outro lado do oceano. Gael era brasileiro e Juan, chileno. Juan foi para Londres uns anos antes, fugido com sua família. Eram refugiados e tinham uma tradição de engajamento típica latino americana. Mas Juan não viveu sempre lá. Ele passou um tempo numa terra fria, onde as sereias nadavam e cantavam para os homens nos barcos. Juan se tornou um homem bom. Depois de tanto tentar curar as próprias tristezas ele decidiu cuidar dos tristes que cismavam em procurá-lo. Sempre gentil e delicado um dia ele conheceu Gael. Ah, Gael! Que pessoa peculiar. Com um brilho que chegava a ofuscar até um cego de nascença, Gael trazia para si todos aqueles que queriam um pouco de brilho também. Mas Juan não chegou perto dele por isso. Ele não queria sua luz, nem seu talento, ele só queria seus defeitos. Todos eles, os piores de todos. Juan não queria muito, só queria estar por perto. Aquele era seu momento de achar a pessoa certa e grudar nela para o resto da vida. Sabe? Um dia isso acontece com todo mundo. Aconteceu com Juan, mas com Gael... Ele tinha acabado de chegar no velho mundo. O mundo das descobertas, das novidades. Ali ele podia tudo, ele seria tudo.

Aos poucos Juan foi chegando perto e conquistando um espaço pequeno, mas singular na vida de Gael. O brasileiro artista e livre demais para permitir essa invasão súbita criava barreiras, sustentava medos irracionais e dizia palavras tolas para afastar aquele que, apesar de não saber, seria o grande amor de sua vida. Juan era paciente, compreendia aquele momento de Gael e escolheu esperar ao lado dele por sua epifania, que nunca chegou. Alguns meses se passaram entre sorrisos, beijos, brigas sem sentido e juras de amor. Juan lhe prometia o céu, mas Gael escolheu a terra. Voltou para o Brasil e deixou Juan. Tentariam manter a relação, mas o tempo. Ah, o tempo! O tempo e a distância se uniram e fizeram o amor se esconder num cantinho do coração que nem mesmo a memória traria de volta.

O tempo continuou passando e finalmente Gael teve a epifania. Mas era tarde demais. Juan ainda estava em Londres. Vivia com alguém que parecia ter correspondido ao seu amor. Juan ainda amava Gael e Gael agora amava Juan mais do que amaria qualquer outro alguém. Mas o tempo passou e o momento também. Era tarde demais para recomeçar aquela história. Gael resolveu guardar novamente aquele amor e Juan seguiu adiante. Juan continua cuidando das tristezas alheias e Gael continua desenhando a alegria que cisma em ver.

*Súbita compreensão de uma verdade óbvia

domingo, 10 de abril de 2011

Cerejeira

Era uma vez duas pessoas que se conheceram sob uma cerejeira. Elas se olharam e se reconheceram como se tudo aquilo fizesse todo sentido. Eles desenharam, conversaram, riram e choraram. Dormiram e acordaram juntos. Mas eles não podiam estar juntos, então, um deles escreveu para o outro este texto aí de baixo.

É engraçado o que a gente pensa das pessoas...

A gente conhece alguém e pensa mil coisas. Coisas boas, ruins... “Será que ele é legal?”, Será que ele gosta disso ou daquilo?” Será que ele transa bem?” Vai, eu sei que você pensa isso também!

E aí você sente alguma coisa muito boa. Você não sabe o que é, mas você tem certeza de que ali, naquela pessoa que você conheceu há poucos dias, existe qualquer coisa de extraordinário que faz você pensar nela e se lembrar de alguma coisa boba que ela falou em algum dia, algum tempo atrás.

Ela ainda não significa nada pra você, ela ainda não existe na verdade na sua vida. É apenas alguém... Alguém que falou uma coisa engraçada e você riu quando não estava num dia bom, alguém que te deu um presente que você nem esperava, mas queria muito.

Um dia alguém me disse que amigos são aquelas pessoas que nos fazem bem sem querer, que não exigem nada de nós, só nossa presença.

Sabe quando você vê a pessoa e simplesmente sorri e dali por diante seu dia passa a ter sentido? É assim. Simples assim.

“Um abraço é melhor do que gozar!” Alguém me disso isso também. E eu concordo. Essa troca sem querer nada em troca é muito boa. É extraordinária, é rara.

Sentir que alguém vê você além do que você é, também é muito raro. É tão bom como quando você sente que, aquele alguém, com quem você nunca trocou mais do que dez palavras, te olha como se você fosse a melhor coisa do mundo, a pessoa mais legal do planeta. “Nossa, o que ela imagina de mim?”

O que você imagina de você? Acredito que a mesma coisa que eu imagino de mim. É bizarro né? O medo de nós mesmos, a vontade de não acordar mais, de um dia deitar e só ficar ali. A gente olha para os outros e vê tudo melhor. A gente se culpa por ser diferente. Se culpa por amar demais, por ser bom demais. Se culpa por se culpar. Nós achamos engraçado quando alguém diz que somos melhores do que imaginamos. Como assim? Eu nem sei o que eu sou!

Eu nunca soube ser completamente feliz. E quando sinto que estou feliz demais, quando vejo que encontro aquilo que sempre procurei, me retraio. Tenho medo porque é bom demais para ser verdade. Tenho medo de não dar conta. Sempre tive medo de mim mesma. Tenho pavor do que eu posso fazer se não me controlar. E eu já perdi o controle. Tanto que não quis mais sair de mim mesma. Mas eu precisava sair. Eu precisava escolher. E eu escolhi. Escolhi seguir. Não importa como, nem o que aconteça no meio do caminho (acredite muitas coisas boas e ruins vão acontecer), não importa se você acordou de mau humor, se está chovendo ou fazendo sol. Só importa que você tem de escolher. Seguir ou parar. E eu escolhi seguir. Por quê? Na verdade, não sei. E nem quero saber. Mas sei que está sendo divertido. Eu choro, rio, ganho, perco, mas no final, sempre dá certo. Pode parecer piegas... E daí? Quem disse que não podemos ser piegas de vez em quando? Quem disse que não podemos simplesmente sermos nós mesmos? A gente não escolhe ser o que é. Nascer onde nascemos, mas escolhemos como seguir. E sabe quem ajuda a gente nessa hora? Aquelas pessoas que conhecemos em algum momento, naquele dia, naquele lugar, e que nos dizem “Vai, eu estarei do seu lado quando tudo der errado para te dizer ‘continue! ’ e estarei aqui quando tudo der certo e você se lembrar de me abraçar só para te dizer ‘parabéns! ’

PS: Eles ainda riem juntos.

TPM-t

Era uma vez uma vontade. Uma vontade imensa de experimentar algo novo. Ele propôs e ela aceitou. Meio a contragosto, mas aceitou. “O que tem de mais, né?”.

- Vamos amor! Eu sou louco para fazer isso! Queria tanto ver você transando com outra garota

- Tudo bem! Vamos! Quando você quer?

- Nossa! Você nem quer pensar sobre isso?

- Não! Se você quer... por mim tudo bem.

- Então tá! No meu aniversário! Pode ser?

- Claro!

O aniversário dele seria em dois meses. Claro que como de praxe ela conversou com as amigas. Nunca perguntou se era isso que deveria fazer, mas sabe quando a amiga puxa o assunto só pra saber o que a outra pensa? Na verdade ela só quer um apoio ou uma reprovação para seguir ou não em frente.

O tempo foi passando e a menina tava quase surtando. Heloísa era o nome dela. O nome da vontade era ménage à trois. Todo dia ela acordava e pensava nisso. Um suspiro tenso e aquelas imagens projetadas que não saiam da sua cabeça. “Ele vai estar com outra e comigo ao mesmo tempo!” “O que eu vou sentir?” “o que ele vai sentir?”. Depois de conversar mais uns três dias com a amiga ela chegou a conclusão de que não seria nada demais. Ela só sabia que não queria estar com mais nenhum homem fora ele. Mulher tudo bem. Ele não sentiria ciúme de uma mulher. Afinal 11 entre 10 homens fantasiam com duas mulheres transando. Vai fundo garota!

O grande dia chegou. Lá foram eles. Por inexperiência escolheram uma casa de swing. Eles foram justamente no dia em só casais trocariam seus pares. Como ela transaria só com uma mulher? E o companheiro dela? Ficaria olhando com o dono da vontade? O que aconteceu foi o inevitável. Todo mundo transou com todo mundo. Lá dentro o coração dele estava a mil. A raiva se misturava com o tesão, mas eles não conseguiram evitar a vontade de ir além.

Depois de três horas eles voltaram para casa em silêncio. E continuaram em silêncio por dois dias. Não tocaram no assunto, nem se tocaram. Ele não via Heloísa e ela só via a vontade dele, que aquela altura já se tornara asco. Dois é bom, três é demais e a tensão pós ménage á trois quando você não está preparado é destruidora.

Ainda bem que ela não nos ouviu

Era uma vez duas pessoas totalmente diferentes que se encontraram em uma pilastra no meio de uma festa de bigodes, camisas quadriculadas, pessoas de mentira e óculos coloridos. Ela estava lá, dançando e confraternizando com metade da festa. Eita menina sociável! Ela conhecia todo mundo e ele não conhecia mais do que duas pessoas. Seus nomes? Madalena e Leo. Sobre a Madalena só vou dizer-lhes uma palavra: feliz. E sobre o Leo vou escrever quatro letras: NERD.

Madalena chegou estonteante. Depois de falar com todos, depois de dançar e de beber um pouco ela reparou nele. Encostado numa pilastra, olhando para o nada. Ela não pensou muito, ela nunca pensava. Chegou perto e o chamou para dançar. Eles foram. Não se desgrudaram mais desde então. Ele morava longe do trabalho e ela perto do que ele queria. Seu corpo. Ele foi ficando. Eles foram se conhecendo. Dormiam e acordavam juntos. Se olhavam mais do que deviam. E então veio o inevitável. A conversa com as amigas.

Madalena se sentou com elas e perguntou o que aquilo tudo significava. Claro que com toda a experiência aprendida em Claudias, Novas, Marie Claires, filmes de amor, e relacionamentos frustrados, suas amigas disseram que aquilo não iria para frente. “Mas por quê?”, perguntava Madalena. “Porque ele só quer sexo!”, responderam prontamente as amigas. Madalena pensou, pensou e por fim falou o que tanto queria. “Ele disse que adora estar comigo!”. Putz! Esse era o momento de chamar o único macho da equipe para dar seu parecer. “O que um homem quer dizer com isso?”, perguntamos ao nosso amigo. Prontamente ele respondeu: “Nada! Ele somente disse que gosta de estar com você. Não disse que gosta de você!”. Realmente o que nós mulheres sempre aprendemos é que os homens dizem o que dizem. Quem diz uma coisa querendo falar outra, somos nós. Somos nós que pensamos e ensaiamos mil vezes o que dizer para forçamos uma reação neles. Não o contrário! E ele disse o que ele queria dizer. A reação dela não foi a da melhores. As amigas praticamente a fizeram acreditar que ele não prestava, que estava apenas se aproveitando dela.

Todos os dias essas amigas, aquelas que foram contra, agradecem por Madalena não ter dado ouvidos aqueles conselhos. Ela seguiu o que ela acreditava e continuou com ele. Eles moram juntos até hoje. Se amam e estão felizes. Não há regra nisso, não é? Não há regra quando o que está em jogo é tão sublime. Até aonde isso tudo vai? Não importa, mas ela seguiu a única coisa que importava, a única coisa que importa quando amamos alguém. Ela seguiu seu coração.

Oportunista

Era uma vez uma menina chamada Natália. A Natália era uma menina comum, não tinha grandes atrativos. Devia medir um metro e meio, era mignon, daquelas que de tão delicadas um amigo meu diria “Nossa nem conseguiria comer com medo de quebrar!”. Ela tinha um rosto simples, ovalado, sem muito brilho nos olhos, mas conseguia passar uma presença, por menor que fosse, ela conseguia ser notada. Mas tinha um “porém”. Ela não era notada por ela. Alguma coisa nela não era verdadeira, era como se cada passo, cada palavra fosse cuidadosamente planejada, friamente calculada.

Mas ela veio. Lá estava ela a tiracolo. Ele veio de longe e queria estar perto, mas ela não conseguia apesar de tentarem encaixá-la em todos os eventos. Nas festas em casa, lá estava ela. Na boate também. Ela não fazia muito, apenas se movia. Quando se movia. Reparava cada detalhe dos outros a sua volta e fazia carinhos desconcertantes nas meninas. Como se quisesse roubar alguma coisa delas por osmose, talvez. Ser observada por ela não era nada agradável, mas por educação ou medo de parecer rude, todos fingiam não se importar.

Ela caiu de pára-quedas na casa de cinco pessoas. Todas amáveis e gentis. Todas bobas. Ela queria estar entre todos, mas não conseguia. Ela faria de tudo para estar ali. Para fazer parte daquele grupo. Ela sabia o que queria e veio determinada a isso. Ela queria ficar e sabia como fazer isso. Quem a trouxe era apenas uma pessoa boa, não uma das pessoas do grupo, mas alguém tão bom quanto. Mas ele foi inocente. Ela só precisava de uma coisa dele. Não era muito. Ela só precisava de um segundo. Um milésimo de segundo da natureza. E ela conseguiu. Mas ninguém soube de nada. Quando ela partiu, o grupo ficou aliviado. Jamais seriam sugados de novo.

E então dois meses depois:

- A Natália está grávida!