quarta-feira, 13 de abril de 2011

O começo da esperança

Era uma vez um começo. E como todo começo sempre é difícil e excitante ao mesmo tempo. E esse não era diferente. Henrique tinha chegado à cidade de férias. Com sua mochila nas costas atravessou o campinho de terra cercado de crianças que o observavam curiosas e arredias. Lá perto da casa de muro cinza, estava uma menina, que já não era menina há muito tempo. O nome dela não importa, o que importa é que ela achou aquele garoto moreno de mochila amarela, muito bonito. Do alto de sua pose debutante ela o conquistou e ele a desejou por dias sem esperar muito. Henrique era tímido demais.

As tardes passavam divididas. Meninas de um lado e meninos do outro até um dos moleques, aquele mais esperto de todos, decide brincar de salada mista. Estômagos se revirando. Frio subindo pela espinha e meninas cochichando e rindo. “Quem você quer?”, “Olha, você tem que apontar para ele”. Nunca vi jogo mais trapaceado! Henrique fugiu o quanto pode, mas o esperto do grupo, que por acaso era seu primo, o jogou na roda. Tadinho! Lá estava ele, no centro do mundo, do seu mundo. Cercado por crianças que queriam ser grandes – Ah, se elas soubessem! – e por olhos famintos. Um em especial. A menina, quase mulher de olhos de índia.

“Vai Henrique, pêra, uva, maçã, ou salada mista?”. “Salada mista!”, gritou o primo. As maçãs do rosto quase roxas e o coração explodindo no peito. Ele suava frio o e aquela dor de barriga desnecessária que nos acompanha em todos os começos, estava lá. Mas Henrique respirou fundo e seguiu em frente. Parou e esperou por ela. Como dona da situação, ela chegou perto, encostou de leve as mãos no rosto dele, sorriu de soslaio e deu-lhe um beijo. Aquele primeiro toque de lábios. A primeira sensação de ser grande. O primeiro arrepio. A primeira vez que seu corpo amolece. A primeira vez que você perde o controle e enfim tem esperança.

Eles nunca mais se viram. Henrique nunca mais foi passar férias na casa da tia Jurema e, dizem as más línguas, a jovem agora vende beijos e carícias a pessoas que buscam um recomeço.

...

Hoje é o dia internacional do beijo. Um belo dia para ser comemorado. O primeiro beijo, um selinho ou um “beijo francês”, não importa. É sempre marcante. É só parar o tempo, se esquecer de tudo a sua volta e sentir o quanto aquela troca é absolutamente fantástica. Não tem forma melhor de sair de si. Não tem forma melhor de estar em si. Neste exato momento existe alguém começando um beijo, alguém prolongando um beijo e alguém querendo um beijo. Neste exato momento existe um pai beijando seu filho, um namorado arrependido tentando beijar a namorada aborrecida, existe até um cachorro lambendo o rosto de alguém (para eles isso é beijo).

Beije alguém! Ah, você está sozinho? Então se lembre daquele primeiro beijo. Não precisa ser o primeiro da sua vida. Pode ser o primeiro de uma outra história, mas lembre-se do primeiro. Foi esse começo que te deu esperança um dia.

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