segunda-feira, 11 de abril de 2011

Epifania*

Era uma vez em Londres. Duas pessoas que vieram do mesmo continente se encontraram do outro lado do oceano. Gael era brasileiro e Juan, chileno. Juan foi para Londres uns anos antes, fugido com sua família. Eram refugiados e tinham uma tradição de engajamento típica latino americana. Mas Juan não viveu sempre lá. Ele passou um tempo numa terra fria, onde as sereias nadavam e cantavam para os homens nos barcos. Juan se tornou um homem bom. Depois de tanto tentar curar as próprias tristezas ele decidiu cuidar dos tristes que cismavam em procurá-lo. Sempre gentil e delicado um dia ele conheceu Gael. Ah, Gael! Que pessoa peculiar. Com um brilho que chegava a ofuscar até um cego de nascença, Gael trazia para si todos aqueles que queriam um pouco de brilho também. Mas Juan não chegou perto dele por isso. Ele não queria sua luz, nem seu talento, ele só queria seus defeitos. Todos eles, os piores de todos. Juan não queria muito, só queria estar por perto. Aquele era seu momento de achar a pessoa certa e grudar nela para o resto da vida. Sabe? Um dia isso acontece com todo mundo. Aconteceu com Juan, mas com Gael... Ele tinha acabado de chegar no velho mundo. O mundo das descobertas, das novidades. Ali ele podia tudo, ele seria tudo.

Aos poucos Juan foi chegando perto e conquistando um espaço pequeno, mas singular na vida de Gael. O brasileiro artista e livre demais para permitir essa invasão súbita criava barreiras, sustentava medos irracionais e dizia palavras tolas para afastar aquele que, apesar de não saber, seria o grande amor de sua vida. Juan era paciente, compreendia aquele momento de Gael e escolheu esperar ao lado dele por sua epifania, que nunca chegou. Alguns meses se passaram entre sorrisos, beijos, brigas sem sentido e juras de amor. Juan lhe prometia o céu, mas Gael escolheu a terra. Voltou para o Brasil e deixou Juan. Tentariam manter a relação, mas o tempo. Ah, o tempo! O tempo e a distância se uniram e fizeram o amor se esconder num cantinho do coração que nem mesmo a memória traria de volta.

O tempo continuou passando e finalmente Gael teve a epifania. Mas era tarde demais. Juan ainda estava em Londres. Vivia com alguém que parecia ter correspondido ao seu amor. Juan ainda amava Gael e Gael agora amava Juan mais do que amaria qualquer outro alguém. Mas o tempo passou e o momento também. Era tarde demais para recomeçar aquela história. Gael resolveu guardar novamente aquele amor e Juan seguiu adiante. Juan continua cuidando das tristezas alheias e Gael continua desenhando a alegria que cisma em ver.

*Súbita compreensão de uma verdade óbvia

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